Um Pouco de Todos
Janaisa Cantele
Janaisa rasga. Janaisa reposiciona. Janaisa junta. Janaisa repete.
Figurativamente, é o mesmo que todos nós fazemos com as nossas histórias.
Selecionamos e lembramos (escolhemos?) o que queremos.
Colocamos peso nas memórias às vezes mais do que nos próprios acontecimentos.
Reposicionamos os fragmentos para ocuparem espaços que desejamos.
Tentamos juntar e criar lembranças coesas e críveis.
E repetimos depois até que se tornem reais.
E se invertermos, mudarmos os registros para que espelhem as memórias?
Em Um Pouco de Todos, Janaisa nos traz um “amor à lembrança”1 poético e pessoal.
Ao reorganizar suas fotos, a artista busca se aproximar
da sua memória e de seu passado.
Percebemos que as lembranças são mais relevantes para a construção de si
do que os próprios incidentes.
Quanto do nosso mundo é subjetivamente construído por nós mesmos?
Quanto da nossa subjetividade é comum a todos?
Será que simbolicamente conseguimos nos encontrar
nas memórias reconstruídas nas colagens de fotos da artista?
Janaisa rasga. Janaisa reposiciona. Janaisa junta. Janaisa repete.
Com isso, resignifica seu passado, faz novas associações
e cria uma nova percepção do seu (nosso?) presente.
... e repetia depois essas lembranças como se fossem próprias;
... procurava seu lugar naquela história.2
Julie Belfer
1 e 2. Alejandro Zambra (2014), Formas de Voltar para a Casa. São Paulo: Cosac Naify.